sábado, 1 de novembro de 2014
MOSAICO
juntei recortes de velhos jornais
formei palavras descomprometidas
frases estranhas sem corpo sem vida
que não pudessem ser ditas jamais
e assim as colei aleatoriamente
em várias cartolinas coloridas
frases estranhas outrora sem vida
a germinar das cores qual sementes
e mesmo que não sejam compreendidas
por tolos que as preferem alienadas
à lógica e ao comum resumidas
crescem alegres rebeldes ousadas
no colorido contextualizadas
frases estranhas tão cheias de vida
CAMPO HARMÔNICO
Uns arpejos pálidos procuram por teus olhos.
E por estes dedos trêmulos, descompassados,
tentam buscar a justa razão por que te puseste ausente.
Agora é momento de as palavras se fitarem,
provocarem situações para que a verdade, serena,
desperte.
Ao som de discretos acordes, porém, te encontro apenas
em tímidas recordações.
Será que vagam - esses olhos - por esta mesma cidade,
por esta mesma rua?
Será que os seres alados, que há dias rondam minha
janela,
são mensageiros do reino distante em que, agora,
habitas?
Se forem, direi a eles que te espero, todas as noites,
na mesma pracinha de outrora.
Eu e meu violão...
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SAUDADE
domingo, 28 de setembro de 2014
DOLOSO
Será que nos reservam um momento
os deuses dos amores proibidos?
Será que nossa história ficará
resumida a desejos reprimidos?
Quando as palavras, enfim, calarão
em nossos lábios trêmulos, febris?
Será que um dia tudo que se diz
será real - volúpia, ardor, paixão?
Nossas vidas não se cruzaram à toa.
Não foi por acaso que teu olhar
com meu olhar um dia se encontrou.
Nem será sem querer que nossas bocas,
oportunamente, irão se tocar
e realizar tudo que se sonhou.
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quinta-feira, 25 de setembro de 2014
QUADRINHAS Nº 1
Queria que me deixasses
pitadas do teu olhar,
para o meu rosto sorrir
e meu coração sonhar.
QUADRINHAS Nº 2
Olhares vagam aflitos,
olhares buscam porquês.
Em teus olhos tão bonitos
minhas razões pra viver.
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QUADRINHAS Nº 3
Onde estão teus lindos olhos
que ataram meu coração?
Por causa destes teus olhos,
meus olhos sem direção.
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QUADRINHAS Nº 4
Em teus olhos cabe a aurora
de um dia de verão:
cheio de brilho e luz...
Cheia de sedução...
QUADRINHAS Nº 5
Teus olhos roubei da noite
por causa dessa poesia.
Morremos na madrugada.
Não vimos a luz do dia.
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domingo, 21 de setembro de 2014
INDIFERENTE
Deuses estranhos cantam ao meu lado,
tocam suas liras e recitam versos,
dançam minuetos, enfeitam tablados,
esculpem mundos, pintam universos.
Mas há demônios cheios de recatos:
graves presenças de moralidade,
bradando pelos templos das cidades
suas leis inúteis, seus discursos chatos.
E esta poesia ingênua e singela -
eterna fé nos sonhos e nas asas
dos corações loucos das almas belas -
bate insistente nas portas das casas,
sopra nas avenidas e vielas
e, alheia a tudo, arde, queima, abrasa.
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
PRIMEIRO ATO DE CULPA
Ontem as palavras se acabaram...
e a noite tornou-se mais noite, mais turva.
Um quase frio roçou os braços daquele momento
e, densa, a madrugada suspirou ofegante:
um perfume se revelando como luz...
Ontem as bocas foram um silêncio tiritante
e houve diálogos, juras, clamores, gritos...
flutuando pela penumbra, aprisionados.
Ontem: um medo indomável.
Hoje: uma alma contrita.
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quarta-feira, 13 de agosto de 2014
UMA HISTORINHA
Ele se chamava Cometa.
Não era tão brilhante quanto muitos
conhecidos corpos
celestes, mas não costumava passar pelos
céus sem que o
notassem.
Um dia, conheceu a beleza definitiva. E
ela se chamava
Lua.
E conheceu que Lua não era somente
absurda beleza, mas
inacreditável candura, indescritível
alma, essência e
simplicidade.
As fagulhas tímidas de Cometa passaram a
ter razões. E,
tendo razões,
tornaram-se rastro de luz que, por onde
passava,
descrevia sempre
uma parábola na forma de um sorriso.
A cumplicidade que se construiu foi algo
que inspirou os céus.
Tornaram-se confidentes de uma forma
natural, como
é típico das amizades estabelecidas na
confiança e no
respeito.
Cometa às vezes se esquecia de sua
origem simples e
queria ter atitudes de estrela. Mas Lua
tratava logo de
chamá-lo a recolocar-se em sua rota. Por
sua vez Lua, que
era sempre muito centrada, às vezes
deixava cobrir-se de
sombras que escondiam seu rosto radiante
e belo. Mas
Cometa escrevia com seu rastro umas
bobagens no céu
para que ela voltasse a sorrir.
Os meteoros – que têm esse nome porque
gostam de se
meter na vida
dos outros corpos da galáxia – dizem por
aí que Cometa e
Lua já não se
veem com tanta frequência, mas que
continuam amigos
como sempre.
Dizem que Cometa ajustou a sua rota e,
de acordo com
ela, tem contatos esporádicos com Lua.
E, dizem ainda,
após esses contatos pode-se notar o céu
mais claro.
São os rastros de Cometa; é Lua, cheia
de luz.
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RESSURREIÇÃO
E as gotas caíram como bênçãos...
Os cabelos molhados, os olhos em transe
e o corpo girando, girando, girando...
Teu corpo e a chuva e meu corpo
flutuante...
é esta a terra que nos absorve, nos
decompõe e nos faz um!
Um novo e único coração.
Nossa nova e única alma,
girando, girando, girando...
braços abertos, olhos fechados ao céu,
sob as gotas, sob as bênçãos,
sob a terra, sob o êxtase, a entrega, o
amor,
girando,
aleluia, girando, girando, girando, aleluia...
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sexta-feira, 6 de junho de 2014
ALFORRIA
Vá-te daqui, tola poesia!
Já não te reconheço.
Me foste honesta e submissa,
mas, agora, tudo que me dizes são melancolias:
palavras brancas e aladas,
doces e aveludadas,
pra uns olhos que não esqueço...
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SELVAGEM
Muitas
esperanças para assassinar
e
poucas chances de redenção:
o
mundo abaixo das linhas imaginárias
ama
violentamente.
E
eu tolo e eu poeta...
Definitivamente,
o amor foi feito para
corações
simples.
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sexta-feira, 30 de maio de 2014
WHO MADE WHO?
Você não pode ser tudo o que querem que seja,
nem pode ter tudo o que buscam em você.
Você não pode ser o profeta de que necessitam.
E não pode ser sempre bom, nem sempre forte.
Tampouco pode ser sempre pontual, ou sempre correto...
Você não pode ser sempre o que querem que seja.
Mas pode ser muito melhor que isso.
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WHO MADE WHO?
VINTE
Por que eles me olham assim
como os loucos das avenidas que bradam por nada?
Decerto sabem que não resisto a também olhá-los,
que não sei fazer disfarce.
A janela oferece uma paisagem tão vasta,
um mundo tão longo...
E eles, por detrás dessa fileira de almas,
insistem em mirar-me.
São os mais distantes
e tenho medo de pensar que são os mais bonitos...
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VINTE
SALA DE VISITAS
E se esse amor chegar inesperado, inusitado?
E se chegar, repentino e indiscreto, como uma enxurrada, como um terremoto: sacudindo as estruturas, sem dar tempo para reações ou protestos?
E se, mesmo ansiosos por sua chegada, ele nos deixar sem ação?
Se ele nos desarmar com a primeira lufada de sua
presença em nosso peito?
Se esse amor for azul, ou rosa, ou verde? E se ele for
jovem demais? Ou velho demais? Se ele for iletrado... se
for poeta... e se for punk?
E se, por acaso, ele nos vier dizer verdades que não
queremos ouvir? E se ele nos disser mentiras que nos
satisfaçam? E se ele nos trouxer culpas? Se nos tranquilizar e nos acomodar?
Se esse amor vier virtual, ou em sonhos, ou em uma
estação: já de partida a olhar pela janela pra nunca mais voltar?
E se não for pra nunca mais?
E se esse amor não chegar assim tão repentino? E se já
tiver chegado, discreto e, igualmente, inusitado? E se,
taciturno, já nos tiver olhado nos olhos e nos dito verdades ou mentiras ou poemas ou bobagens? Se, laconicamente silencioso, ele já nos tiver desarmado?
E se esse amor já for real? E se já for eterno?
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SALA DE VISITAS
EVENTUAL
guardaremos da noite esses sabores
dos toques do desejo da euforia
e da janela aos primeiros rubores
apreciaremos o nascer do dia
e diante de teu rosto iluminado
de luz e cor o céu se cobrirá
envaidecido pelo teu olhar
e pelos tons de tua pele acanhado
guardaremos da noite só lembranças
a manhã preguiçosa romperemos
e deixaremos tudo no passado
por essas ruas nenhuma esperança
nenhum medo ou certeza levaremos
só um momento pra ser redesenhado
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segunda-feira, 26 de maio de 2014
PRESENTEIE-SE
Se a vida é corrida e atarefada, se dê
de presente um
pouco de tempo. Tempo com as pessoas que
lhe fazem
sentir-se bem, com seu animal de
estimação, com sua
música preferida, com o silêncio,
consigo... Porque tempo
não é dinheiro. Tempo é oportunidade
para ser feliz.
Se os projetos estão difíceis de realizar, presenteie-se com
sonhos. Porque cada sonho é um novo
projeto: uma nova
opção para transformar-se em realidade.
Se um amor te faz sofrer, regale-se com um bom rock’n
roll, uma coca-cola gelada, uma roupa
nova ou uma
tarde com os amigos. Amores existem pra
nos fazer bem.
Quando não fazem, é hora de serem
momentaneamente
preteridos, pra que possam, quando for o
caso, retornar
mais tarde. Coloridos e saudáveis...
Se o mundo anda meio sem jeito, se as notícias são de
guerras, mortes, roubos, violência
enfim, presenteie-se
com atitude. O mundo muda para melhor a
cada
gesto de bondade que fazemos. Gestos que
fazem o
metro quadrado à nossa volta ser um
lugar melhor. Não
podemos desistir de fazer bondades,
mesmo que pareçam
pequenas. Os mares não existiriam sem as
pequenas
gotas.
Presenteie-se!
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PRESENTE
MATINAL
E se tornar-se difícil o caminho,
se nossas forças forem-se perdendo,
e se as lições se forem esquecendo,
e se os passos sentirem-se sozinhos...
Se de águas turvas tomarem-se os rios,
de turbulentas tormentas o céu,
e se os sabores tornarem-se fel,
e se os amores tornarem-se frios...
haverá noites pra que o sol descanse
e um silêncio brotando do horizonte
e uma chuva pra se purificar.
haverá um novo arrebol se fazendo
e uma aquarela plena de motivos
para um novo caminho desenhar.
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CAMPO
minha pequena flor chapéu dourado
do ouro dos vimeiros dos trigais
toca meus dedos caminha a meu lado
toma meus sonhos os faça reais
pequenina candura: aroma e cor
torna uma aventura meus parcos dias
imprevisível como eu não previa
inesperado como se esperou
aqui firma teus duradouros passos
teus dedos move delicadamente
deixa o vento as sementes espalhar
que a impaciência pelo teu abraço
fez meu corpo terra fértil carente
pra tua
presença poder germinar
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quinta-feira, 17 de abril de 2014
LOGIA
Ah, se os poetas fossem imunes ao sentimento,
se fossem apenas movidos pela realidade nua, pela
exatidão...
Se tivessem um olhar crítico sobre todas as coisas,
e se possuíssem o poder de compreender tudo o que as pessoas sentem sem ter que senti-lo...
Ah, se os poetas não precisassem das madrugadas,
se não dependessem das artes, da terra, da chuva, do
sofrimento...
E, quem sabe, se não fossem sensíveis,
se não chorassem, se não protestassem...
Se os poetas fossem sempre lúcidos, se fossem sempre belos
e sempre alegres e sempre coerentes e sempre lógicos...
Se não fossem loucos...
Ah, se poemas fossem produzidos em linhas de
montagem...
Se poetas fossem formados em universidades
e se pudessem escolher especializar-se nos estilos que quisessem...
Se fossem cristalinos, absolutos, lacônicos...
Se os poetas fossem sempre céticos...
E se fossem sempre crentes...
Ah, se os poetas não odiassem...
E se não amassem...
Então, haveria poetas e poemas,
mas não poesia.
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