quinta-feira, 17 de abril de 2014

LOGIA


Ah, se os poetas fossem imunes ao sentimento,
se fossem apenas movidos pela realidade nua, pela
exatidão...
Se tivessem um olhar crítico sobre todas as coisas,
e se possuíssem o poder de compreender tudo o que as pessoas sentem sem ter que senti-lo...
Ah, se os poetas não precisassem das madrugadas,
se não dependessem das artes, da terra, da chuva, do
sofrimento...
E, quem sabe, se não fossem sensíveis,
se não chorassem, se não protestassem...
Se os poetas fossem sempre lúcidos, se fossem sempre belos
e sempre alegres e sempre coerentes e sempre lógicos...
Se não fossem loucos...
Ah, se poemas fossem produzidos em linhas de
montagem...
Se poetas fossem formados em universidades
e se pudessem escolher especializar-se nos estilos que quisessem...
Se fossem cristalinos, absolutos, lacônicos...
Se os poetas fossem sempre céticos...
E se fossem sempre crentes...
Ah, se os poetas não odiassem...
E se não amassem...

Então, haveria poetas e poemas,
mas não poesia.