sexta-feira, 9 de outubro de 2009

GRIS


No cinza desta tarde úmida e fria,

aos olhos destes rostos sonolentos,

os meus decassílabos pensamentos

distantes, em lampejos de poesia


buscando a luz dos sóis imaginários

que banham vales em longínquas terras;

verdejam campos e desenham serras;

dormem nos mares, soam campanários.


Na frieza do cinza desta tarde,

paredes gélidas, ecos de vozes

e tua presença contida e serena.


No entardecer desta cinza frieza,

só teu perfume me prende ao instante.

Só teu olhar é que me vale a pena.



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SERENO


Vago só
E sou mais um, como os edifícios
Velando o sono dessas ruas...
E só, construo minhas esperanças das trevas.

Sempre há manhãs, mesmo que despidas de sol.

Então este meu vagar entre calçadas e jardins,
entre praças e vitrines
desconhece solidões e escuridões:
este meu vagar é livre.



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sábado, 15 de agosto de 2009

SOB OS OLHOS DO ANJO


FOTO: Gabriel Machado





















As letras que conheço, também conheces e,
em idiomas distintos, bebemos do mesmo vinho,
experimentamos os mesmos deleites
e fugimos das mesmas doutrinas.
Frequentamos a mesma Capela.
Tivemos os mesmos amigos.

Dissecamos juntos os mesmos poemas,
as mesmas teorias, filosofias, ideologias...

Por fim celebramos, com trajes iguais,
a mesma vitória...

Mas minhas palavras são incapazes de descrever tuas imagens,
porque a poesia de tuas lentes dispensa palavras.
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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

OLFATO Nº 03

ficaram só as gavetas vazias
os ecos melancólicos e amargos
dos passos lentos dos sorrisos largos
nos vidros turvos nas paredes frias

e esses fantasmas: meus novos amigos
cirandas pálidas de solidão
só por uns dias me acompanharão
enquanto vivam meus sonhos contigo

mas da janela vejo a Velha Estrada
e a silhueta alva e delicada
que teu destino deixou no horizonte

como a chamar minha alma abandonada
a correr pelos vales pelos montes
buscar a calma da antiga morada


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AUDIÇÃO Nº 03

Deuses estranhos cantam ao meu lado,
tocam suas liras e recitam versos,
dançam minuetos, enfeitam tablados,
esculpem mundos, pintam universos.

Mas há demônios cheios de recatos:
graves presenças de moralidade,
bradando pelos templos das cidades
suas leis inúteis, seus discursos chatos.

E esta poesia ingênua e singela -
eterna fé nos sonhos e nas asas
dos corações loucos das almas belas -

bate insistente nas portas das casas,
sopra nas avenidas e vielas
e, alheia a tudo, arde, queima, abrasa.


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OLFATO Nº 04

Esta manhã meus pés ansiaram por percorrer aquele teu caminho:
pisaram a terra que, há muito, acolhe teus passos.
Esta manhã foi o sol, foi o vento e o verde tudo lembrança.
E me pareceu aquele teu xale escuro no varal:
teu perfume estendido no quintal,
inspirando
as flores...
os campos de aveia...
os pomares...

Tua casa e as janelas enamoradas do sol,
e meus pés pisando a terra que teus pés tanto conhecem.

Então me ocorreu que te devesse um poema,
que a poesia é a mais justa das menções
às pessoas que perfumam e enfeitam o universo.


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domingo, 7 de junho de 2009

TATO Nº 05

Só em teus olhos eu me sinto livre:
Um pássaro em teus sóis, em tuas cores.
Um vento provocando a tua pele.
A água em tuas montanhas, em tuas flores.

E a gosto dessa insana liberdade
Sob as mortalhas desse firmamento,
Sob os teus pés, sob a tua vontade,
Eu todo a ti em oferecimento

Amor, não legue-me as sombras das casas,
As luzes pálidas dos edifícios,
E a infinitude dessas avenidas.

Deixe-me a liberdade de teus olhos
Envolta nas paredes de teu quarto
E livre dou-te toda minha vida.


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quinta-feira, 21 de maio de 2009

SONETO VIRTUAL

Agora um frio que me põe mais distante
E uma lembrança de olhos azuis
Doce perfume e uma aura de luz
Visível só aos corações amantes

Agora o som trêmulo dos teclados
E a tua voz só na imaginação
O teu sorriso uma suposição
Deste meu coração apaixonado

Agora a noite serena e gelada
E o calor virtual de tuas mãos
Tomando minhas mãos de indecisão

Agora um tiritar de pulsação
Me abandonando pela madrugada
Com um doce beijo em letras decoradas

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

LIVRE SONHAR

Sonhemos, então...
um sonho duradouro
como o mel, como o ouro...
ou passageiro,
como as ondas do mar
ou como “a gota no olhar”...

Sonhemos, sim,
o amor, a loucura,
o respeito, a ternura...
Sonhemos, hoje,
o amanhã, e o depois,
esquecendo o que foi...

Sonhemos, sempre...
a coragem e a ação,
e da imaginação,
projetar e buscar
as barreiras vencer,
e amar... e viver...


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TATO Nº 02

Segure minhas mãos!
Houve um dia em que meus olhos te sentiram perto...
muito perto.
E minha pele tornou-se fria, precisando de calor...
E meu coração tornou-se inquieto, precisando de afago...
E minha alma tornou-se só.
Houve um - e somente um - dia.
E em outros me procurei
e me encontrei vagando
por entre as fileiras incontáveis das almas enamoradas.
Só. Sempre só.
Agora meus olhos te sentem perto...
novamente, muito perto.
Segura minhas mãos!
Acolhe minha alma!
Afaga meu coração!
e me acalma!

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ANJO

Te quero em um poema
Singelo
Simbólico
Simples e doce!
Sim, assim: doce como a tua imagem...
Os corredores, enrubescidos sob teus passos,
um dia ficarão para trás.
Mas um poema é imortal!
Então, é aqui que te quero!
Anjo que me toma pela mão
e me faz andar...
Anjo que me leva nos lábios
e me faz sorrir...
Anjo que me põe nos braços
e me faz dormir...
Agora te levo em um poema
pra que sejas para o mundo o que já és para mim:
Eterna...


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SONETO

Deixa-me contemplar-te todo dia.
E todo dia em teus olhos viver.
E todo dia em teus olhos morrer,
Pra renascer de você, todo dia.

E se saudades sinto a toda hora
e toda hora busco teu retrato,
é porque a toda hora me maltrato
e me refaço em você, toda hora.

Porque penso em você cada minuto
e essa lembrança resume meu mundo
e me faz te adorar cada minuto.

Como não te adorar cada segundo,
se é só meu coração a quem escuto,
e pulsa por você cada segundo?

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Gratidão

É chegada a hora e os anjos partem...
O Anjo que esteve a meu lado também alça vôo
e deixa que eu siga meu caminho só
mas me acompanha de uma distância segura
eu bem sei
para que eu possa abraçar meu próprio destino
e vá vencendo meus medos aos poucos
e vencerei sim
mas sentirei falta do meu Anjo...
que tem o sorriso mais ofuscante
e tem as palavras mais autênticas
e tem a presença mais afável
um anjo já foi um ser comum
mas se tornou anjo por acreditar no amor
de uma maneira inatingível para os meros mortais
então obrigado por seres o meu Anjo!!!
sigo seguro pelo calor de tuas mãos...


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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Audição nº 1

Te amo!
E, como não encontrei melodias,
nem gestos,
nem flores, nem cores...
Como não consegui silêncio tão profundo,
verbalizo:
Te amo!
Existem amores discretos, exibicionistas,
delicados, enigmáticos ou sutis.
Amores telepáticos. Amores virtuais.

Te amo!
com meu amor tímido...
com meu amor simples...

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Saúde

Aos amigos, um brinde!
da cor do sangue que nos une
e nos torna iguais.
Aos de sempre e aos novos,
um aroma de café fresco
e um sol nascendo em pleno verão.
Aos desta e aos de outra dimensão,
notas macias
de uma canção alegre.

Aos amigos, um brinde!
com nuances de carvalho...
Que a amizade melhore com o tempo!
Aos próximos e aos distantes,
o canto do sabiá
e o colorido dos ipês.
Aos jovens e aos velhos,
uma noite enluarada
ao redor de uma fogueira.

Aos amigos um brinde!
com sabor que lembre a especiarias:
seja a amizade simples, sem cair na mesmice.
Aos formais e aos informais
o prazer de banhar os pés na água do mar.
A todos:
um abraço de filho, um beijo de paixão
e um amor, desapegado, à vida.

Aos amigos um brinde!
numa taça frágil que, como a amizade,
mereça um cuidado especial.


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Paladar nº 4

Um poeta pequeno,
embriagado, por essas noites, por essas ruas.
Um grande poeta, pequeno e triste:
o mais ilustre dos boêmios.
Salvam-lhe a vida os versos rimados:
sete sílabas repetindo
o amor e a saudade.
O poetinha cujo futuro
não vê o sol nascer:
morre com a noite e renasce com a noite...
Não precisa ser feliz porque
ninguém à sua volta é feliz.
E ninguém, sendo feliz, permanece à sua volta.
Só os infelizes pagam-lhe uma bebida...
E são, esses, sua platéia.
Carrega a inspiração no bolso da camisa
e faz uso dela sempre que necessário,
para saciar a fome,
a sede,
o vício...
Ao poeta pequeno, reverências!...

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Tato nº 4

Todo envolto
num morno
num aconchego de dar preguiça
que é assim
tua pele
e fique assim
tua pele
minha pele
toda a estação
todo envolto
todo em volta
tudo em volta
tudo em vão.

Bucólico

E são estas, as verdes manhãs de verão,
adornadas por sabiás e sol,
as afrontas à minha tola crença
no paradoxo de metal.
Um arrebol preguiçoso
descortina, rotineiro, o mundo do operário,
e do mestre
e do aluno
e da mãe.
E a mesma razão que me cala
me faz entoar um cântico,
que não seja pálido... nem grave.
Que não seja hipócrita:
um canto de total serenidade.
Um canto de vida, não de sobrevivência!
Se os idiotas nos vencerem, nos deixarão lições.
Se aprendermos, sobreviveremos.
Se seguirmos na luta, viveremos.
O sol segue seu curso.
Que ele nos traga vontade de cantar...
e coragem para viver.

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Visão nº 9

Foi um dia especial
quando Deus te fez.
E como criou o homem
à Sua imagem e semelhança,
este foi o dia
em que Ele experimentou a vaidade.
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Visão nº 8

Quando meus olhos repousaram sobre os teus,
houve luz
e confusão.
Ao delírio deixou-se a alma
e aos medos, o coração.
Renderam-se ao frio, as mãos;
o suor brotou da palma;
do pulso perdeu-se a calma;
e dos pés perdeu-se o chão.

Quando meus olhos repousaram sobre os teus,
houve calor
e ansiedade.
De perguntas tomou-se a certeza;
de dúvidas, a verdade.
A loucura e a sanidade
sentaram-se à mesma mesa.
Nem êxtase, nem fraqueza,
nem choro, nem liberdade.

Quando teus olhos repousaram sobre os meus
houve silêncio,
somente.
Não sei se um vento soprou
ou se as nuvens trovejaram.
Não vi se era noite ou dia;
não senti calor, nem frio.
Nem música, nem aromas.
Só teus olhos, só teus olhos...

...